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03 janeiro 2018

Resenha - "História do Olho"


~ Hey ~

Que comecem as leituras de 2018! Mais um ano, mais Desafios Literários. Para abri os trabalhos, escolhi o livro infra resenhado, ousado, publicado em 1928. 



"História do Olho",Georges Bataille
                                                                           ★ ★ ★


                                                         1. Um livro de Ficção Científica

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Créditos: Jan-Saudek-Hyperbole-1 Pintura de Jan Saudek, retiradas [daqui]

"História do Olho" é um livro eroticamente cômico.

Por vezes senti o desejo carnal, lascivo e pútrido no qual o texto é embebido. O título carrega a palavra “olho” e a capa contextualiza a que tipo de “olho” vulgarmente se refere. A variação de nomenclatura para o orifício se repete várias e várias vezes, seja enaltecendo-o, seja desejando -o.

 O ato sexual em si não é detalhado, mas mencionado e determinado. Não há “machadianismos” ao seu desenrolar, apenas o que foi feito, onde e como. Situa e encerra. Os mais pitorescos fetiches são trazidos: a urina e a ejaculação em corpos alheios e junto a cadáver, inclusive estupro seguido de homicídio por enforcamento são alguns deles.


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Créditos: Jan-Saudek-Hyperbole-2 Pintura de Jan Saudek, retiradas [daqui]

Entre os capítulos, desenhos eróticos adornam as páginas, isso porque a obra conversa com a fase surrealista. Marquês de Sade ficaria orgulho.

Trata-se do ardor da descoberta sexual de dois jovens, parentes longínquos e suas angústias compartilhadas pelas “coisas do sexo”, como o próprio eu lírico coloca. O texto é recheado de insinuações capciosas, olhares insanos e principalmente um pudor retido pela necessidade esmagadora de libertar-se, a libertação está intrinsecamente associada a nudez e essa por sua vez, ao prazer.

Diferente do comum em relação as mídias que retratam o sexo, em “Historia do Olho”, o sexo não finda ou tem necessariamente a sua consumação no gozo, mas sim na exasperação, no limite do humanamente suportável. O ambiente hostil de urina, sangue, suor, vômito e “porra” consome os personagens e só então, exaustos ou insanos encerram.

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Créditos: SAudek-hyperbole-40 Pintura de Jan Saudek, retiradas [daqui]

Vários objetos e “coisas”, por assim dizer, tem suas funções e características distorcidas em prol da conotação que os personagens querem dar ou precisam inseri-los e utilizá-los. Um pote não é mais um pote somente, um armário não é mais um armário somente e um ovo, não é mais um ovo somente. O único nu, cru e de fato real é o prazer e todo o resto meio para alcança-lo.

Por fim, o narrador nos apresenta uma versão do que poderia ser a explicação para os atos narrados até então, mas sem justificar-se, o que dá um teor autobiográfico a obra, onde já reina a metáfora.



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